segunda-feira, outubro 05, 2009

A van, ou a maldita informalidade

Apesar de estar a apenas uma ponte de distância do Rio de Janeiro, Niterói não é tão pródiga em transporte coletivo quanto à sua vizinha. Sexta-feira, 11 da noite, depois de alguns chopps e bolinhos de bacalhau, estávamos de pé em uma avenida esperando pelo ônibus que nos traria de volta à cidade maravilhosa. 10 minutos, 20 minutos, meia hora e nada. Já começávamos a nos acostumar com a ideia de gastar um rio de dinheiro num táxi quando, de repente, surge uma van com "Copacabana" escrito na placa junto ao para-brisa.

- Vai pela praia do Flamengo, chefe?
- Vamos sim!

Beleza, conseguimos o nosso transporte, meia hora e estaremos em casa. A van segue o seu caminho pela ex capital fluminense, pegando outros passageiros enquanto observamos a paisagem do outro lado da baía da Guanabara. Mais uma parada e o sujeito chega até a porta e pergunta:

- Aí, tu vai por onde?
- Tu quer ir aonde?
- Passa na rodoviária?
- Não...
- Ah...
- Mas, vai, eu passo por lá. Sobe aí.

"Caralho!", penso. Olho pra minha noiva e comento, em off, "pode botar mais 20 minutos de viagem aí". O motorista começa a arrancar e duas meninas chegam correndo:

- Passa na Lapa?
- Err...
- Não?
- Sobe aí, dou um jeito.

"Nada é tão ruim que não possa piorar", é o que me vem à cabeça. Começo a me sentir como aquele garoto que é o último a ser entregue pela Kombi escolar... Última parada antes da ponte, um sujeito solitário aguarda a van. "Deus queira que não seja para Campo Grande", penso.

- Passa na Central?
- Sobe aí!

Menos mal.

Atravessamos a ponte e seguimos em direção à rodoviária e demais destinos onde deixamos os felizes passageiros adquiridos nos últimos momentos da van em Niterói. Depois disso seguimos, finalmente, para a zona sul. Saindo da Lapa, o motorista pega o aterro e vai embora. Dou uma cutucada no ombro do sujeito e pergunto:

- Cara, você não ia pela praia?
- IH!! É mesmo! Esqueci! Calma, é só fazer o retorno ali na frente.

Seguimos mais um pouco pelo aterro, retornamos e somos deixados na praia do Flamengo para uma caminhada até em casa discutindo o Rio de Janeiro e a informalidade.

terça-feira, setembro 29, 2009

Ainda sobre taxistas

O Rio de Janeiro é pródigo em táxis: se você estender a mão em qualquer esquina da cidade, pelo menos três tentarão te pegar. Naturalmente, toda esta frota só está à sua disposição quando você não precisa. Há alguns anos, estava na esquina da av. Almirante Barroso, debaixo de chuva e atrasado para chegar ao aeroporto, tentando pegar um táxi e, é claro, nada acontecia. Finalmente, consegui entrar no Santana mais velho do mundo e seguir meu caminho em direção ao Galeão. A felicidade durou pouco, pois na altura do mergulhão da Praça XV o motorista do Santana mais velho do mundo vira pra mim e diz: "Ih, não tenho gás para chegar até a Ilha".

"Caralho", penso. Olho em seguida para o relógio, onde mais um minuto acaba de ter início e, meio desesperado, pergunto: "O que eu faço então, pô?". "Não esquenta, vou parar um táxi para tu aqui no caminho". E assim, damos início a uma saga dentro do mergulhão tentando encontrar e convencer um motorista a fazer a baldeação. Depois de muitas buzinadas e sinais, um motorista em outro Santana velho topa a parada. Se o primeiro motorista foi honesto em sua desculpa ou não, não faço ideia, mas não me cobrou o trecho da corrida.

Correndo, pego as minhas coisas, e entro no outro carro. Apressado, digo que a corrida é para o Galeão e me acomodo. Levo alguns momentos para ver que o interior do automóvel foi transformado num altar ao Clube Atlético Mineiro: adesivos, galos, flâmulas cobrem o console e os vidros. Surreal! Ao longo da corrida o taxista me conta a sua saga até chegar ao Rio de Janeiro e o resto da conversa, como não poderia deixar de ser, trata do Atlético, que naquela época estava vivendo no limbo do campeonato brasileiro. Desço no aeroporto, deixo um cordial "vamos ver se a gente melhora na próxima temporada" e sigo para a fila do check in.

terça-feira, abril 21, 2009

Nos tempos de Getúlio

Faço sinal e entro no táxi. No volante, um senhor bem idoso. Começamos a conversar, papo vai, papo vem e, num determinado momento, ele revela a sua idade:

- Eu tenho 83 anos!

- É mesmo? - digo, incrédulo.

- Sim! Quando eu entrei para a praça Getúlio Vargas ainda era o presidente do Brasil.

- Puxa, quando Getúlio se suicidou, minha mãe era recém-nascida.

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