segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Espaço público

Estação Carioca, 13:30h, um calor típico do verão carioca. O metrô chega, para, abre as portas e o sujeito apenas se lembra de que vive em um balneário quando se depara dentro do vagão com pessoas usando sandálias e bermudas floridas e portando cadeiras de praia no início da tarde de uma segunda-feira. Não é mole essa vida.

Ao lado, uma moça pronta para ir a academia faz alongamentos numa das barras. Um pouco mais à esquerda, de pé junto a porta do meio do vagão, um casal saído de algum dos escritórios do centro começa a trocar beijos e carícias um tanto tórridas. Aos poucos, a atenção do vagão, que enche um pouco mais à cada parada, começa a se voltar para a dupla. Me lembro que há poucos dias havia testemunhado cena semelhante em um dos vagões só que, ao invés de estarem em trajes formais, o casal usava o uniforme do colégio e ninguém dava a mínima. São as mazelas da vida adulta.

Na verdade, a cena era tão inusitada que a partir de um determinado momento comecei a considerar a possibilidade de que o casal estivesse atuando para algum comercial ou que participássemos de algum experimento com câmera escondida, mas passados alguns minutos meus devaneios são interrompidos por um sujeito à minha frente que, impaciente, olha para uma amiga e diz:

- "Ah, não! Vou tirar uma foto dessa parada!"

Ato contínuo, saca um smartphone do bolso e faz uns dois registros fotográficos daquela cena pitoresca, exibindo as imagens para a tal amiga que está num dos bancos à sua frente. Algumas gargalhadas já são ouvidas no vagão. O casal, no entanto, parece não se importar e dá continuidade às suas atividades. Não satisfeito com a qualidade do material obtido na primeira sessão de fotos, o sujeito aponta o celular novamente e diz, alto:

- "Dá mais um beijo, mermão!"

Pedido atendido e prontamente agradecido pelo fotógrafo:

- "Ah, moleque!"

Minha estação chega e desço. O casal segue viagem. O fotógrafo também desce, teclando alguma coisa em seu celular, quem sabe postando as fotos em alguma rede social. Paro para recarregar o cartão do metrô e fico pensando em como é engraçado que após a convergência digital, o espaço público tenha deixado de ser um vagão, uma praça ou uma rua para se tornar, de uma hora para outra, o mundo.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Dia de futebol

A chegada do verão na quarta-feira passada foi marcada por uma bela pancada de chuva aqui no Rio de Janeiro. Estaria tudo bem, se eu não estivesse de pé, na fila do ônibus do metrô, junto com dezenas de outros passageiros aguardando que o motorista assinasse alguns papéis antes de abrir as portas do coletivo quando as primeiras gotas caíram. A chuva começa a apertar e as pessoas, automaticamente, começam a gritar com o motorista, que se dá conta da barbaridade da situação e abre o acesso para a galera. Infelizmente, boa parte das pessoas ainda necessita vasculhar as suas bolsas ou mochilas em busca do cartão de acesso ao ônibus, desperdiçando minutos preciosos que deixam os últimos da fila se ensopando debaixo daquela tempestade.

Sigo o meu caminho remoendo aquela disposição divina de reservar o horário da pelada semanal para as chuvas no Rio de Janeiro. Já era a terceira semana seguida que aquilo acontecia. Chega a minha parada, desço e fico abrigado debaixo da proteção com uma turma grande de passageiros e pedestres. Sem guarda-chuva, já considerava a possibilidade de parar um táxi e voltar para casa. Não sei se foi o pensamento positivo da galera que já estava na quadra, esperando que os demais jogadores aparecessem para garantir a partida, mas o fato foi que, de repente, um ônibus passa em alta velocidade e molha toda a moçada que, junto comigo, se espremia se protegendo da tempestade.

Sujo com aquele mix de "poeira asfáltica" e água, não tinha alternativa a não ser seguir para o futebol e assim o fiz, pelo menos cheguei mais limpo do que saí daquele ponto de ônibus. Assim, graças a ação solidária daquele motorista anônimo, os companheiros da pelada semanal puderam contar com a minha presença.


sexta-feira, setembro 03, 2010

Está dada a largada!

Com as modificações implementadas pelo Metrô Rio no fim de 2009 fazendo com que a linha 2 circulasse até a estação Botafogo, a quantidade de pessoas que circulam por esta estação em horários de pico aumentou extraordinariamente. Pode não ter sido a melhor solução de engenharia, mas me parece que os usuários dos serviços da linha 2 estão satisfeitos.

Hoje, no final da tarde, estava de pé na plataforma de embarque naquela estação aguardando uma composição quando o trem cujo destino final era a Pavuna chegou. O veículo chega vazio, e centenas de pessoas começam a se aglomerar dos dois lados da plataforma enquanto ele estaciona. Trem parado, passam-se alguns segundos de expectativa e as portas se abrem, todos correm freneticamente em direção aos bancos vazios, disputando os lugares.

Enquanto aguardo do lado de fora, vejo quatro mulheres correndo em direção aos bancos vazios que ficam dispostos em linha, de costas para uma das janelas do vagão. Todas se atiram ao mesmo tempo e, dado o porte físico avantajado de todas elas e a disponibilidade de apenas 3 assentos, uma delas, que havia ficado no meio, é espremida e cuspida pra cima, caindo no colo das outras três tal qual um daqueles experimentos didáticos sobre colisões nas aulas de física no segundo grau.

Um moleque que ficara do lado de fora se agacha e começa a rir. Olha pra trás e me diz:

- Tu viu isso? - e continua a gargalhar com as mãos na barriga.

O clima de sexta-feira, véspera de feriadão, acalma o ânimo das pessoas e as coisas voltam ao normal no vagão. Embarco e seguimos adiante.

segunda-feira, outubro 05, 2009

A van, ou a maldita informalidade

Apesar de estar a apenas uma ponte de distância do Rio de Janeiro, Niterói não é tão pródiga em transporte coletivo quanto à sua vizinha. Sexta-feira, 11 da noite, depois de alguns chopps e bolinhos de bacalhau, estávamos de pé em uma avenida esperando pelo ônibus que nos traria de volta à cidade maravilhosa. 10 minutos, 20 minutos, meia hora e nada. Já começávamos a nos acostumar com a ideia de gastar um rio de dinheiro num táxi quando, de repente, surge uma van com "Copacabana" escrito na placa junto ao para-brisa.

- Vai pela praia do Flamengo, chefe?
- Vamos sim!

Beleza, conseguimos o nosso transporte, meia hora e estaremos em casa. A van segue o seu caminho pela ex capital fluminense, pegando outros passageiros enquanto observamos a paisagem do outro lado da baía da Guanabara. Mais uma parada e o sujeito chega até a porta e pergunta:

- Aí, tu vai por onde?
- Tu quer ir aonde?
- Passa na rodoviária?
- Não...
- Ah...
- Mas, vai, eu passo por lá. Sobe aí.

"Caralho!", penso. Olho pra minha noiva e comento, em off, "pode botar mais 20 minutos de viagem aí". O motorista começa a arrancar e duas meninas chegam correndo:

- Passa na Lapa?
- Err...
- Não?
- Sobe aí, dou um jeito.

"Nada é tão ruim que não possa piorar", é o que me vem à cabeça. Começo a me sentir como aquele garoto que é o último a ser entregue pela Kombi escolar... Última parada antes da ponte, um sujeito solitário aguarda a van. "Deus queira que não seja para Campo Grande", penso.

- Passa na Central?
- Sobe aí!

Menos mal.

Atravessamos a ponte e seguimos em direção à rodoviária e demais destinos onde deixamos os felizes passageiros adquiridos nos últimos momentos da van em Niterói. Depois disso seguimos, finalmente, para a zona sul. Saindo da Lapa, o motorista pega o aterro e vai embora. Dou uma cutucada no ombro do sujeito e pergunto:

- Cara, você não ia pela praia?
- IH!! É mesmo! Esqueci! Calma, é só fazer o retorno ali na frente.

Seguimos mais um pouco pelo aterro, retornamos e somos deixados na praia do Flamengo para uma caminhada até em casa discutindo o Rio de Janeiro e a informalidade.

terça-feira, setembro 29, 2009

Ainda sobre taxistas

O Rio de Janeiro é pródigo em táxis: se você estender a mão em qualquer esquina da cidade, pelo menos três tentarão te pegar. Naturalmente, toda esta frota só está à sua disposição quando você não precisa. Há alguns anos, estava na esquina da av. Almirante Barroso, debaixo de chuva e atrasado para chegar ao aeroporto, tentando pegar um táxi e, é claro, nada acontecia. Finalmente, consegui entrar no Santana mais velho do mundo e seguir meu caminho em direção ao Galeão. A felicidade durou pouco, pois na altura do mergulhão da Praça XV o motorista do Santana mais velho do mundo vira pra mim e diz: "Ih, não tenho gás para chegar até a Ilha".

"Caralho", penso. Olho em seguida para o relógio, onde mais um minuto acaba de ter início e, meio desesperado, pergunto: "O que eu faço então, pô?". "Não esquenta, vou parar um táxi para tu aqui no caminho". E assim, damos início a uma saga dentro do mergulhão tentando encontrar e convencer um motorista a fazer a baldeação. Depois de muitas buzinadas e sinais, um motorista em outro Santana velho topa a parada. Se o primeiro motorista foi honesto em sua desculpa ou não, não faço ideia, mas não me cobrou o trecho da corrida.

Correndo, pego as minhas coisas, e entro no outro carro. Apressado, digo que a corrida é para o Galeão e me acomodo. Levo alguns momentos para ver que o interior do automóvel foi transformado num altar ao Clube Atlético Mineiro: adesivos, galos, flâmulas cobrem o console e os vidros. Surreal! Ao longo da corrida o taxista me conta a sua saga até chegar ao Rio de Janeiro e o resto da conversa, como não poderia deixar de ser, trata do Atlético, que naquela época estava vivendo no limbo do campeonato brasileiro. Desço no aeroporto, deixo um cordial "vamos ver se a gente melhora na próxima temporada" e sigo para a fila do check in.

terça-feira, abril 21, 2009

Nos tempos de Getúlio

Faço sinal e entro no táxi. No volante, um senhor bem idoso. Começamos a conversar, papo vai, papo vem e, num determinado momento, ele revela a sua idade:

- Eu tenho 83 anos!

- É mesmo? - digo, incrédulo.

- Sim! Quando eu entrei para a praça Getúlio Vargas ainda era o presidente do Brasil.

- Puxa, quando Getúlio se suicidou, minha mãe era recém-nascida.

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domingo, julho 06, 2008

sem novidades

a final da libertadores conjugada à uma quinta-feira de extensos trabalhos resultou na perda do horário na manhã da sexta-feira e, naturalmente, não consegui tomar o ônibus até o trabalho. a solução foi caminhar até o metrô. outra oportunidade para checar o andamento do processo de substituição do cartão pré-pago. após relatar todo o ocorrido, inclusive os contatos com o SAC via telefone (quando eles atendem), fui informado de que o cartão estaria pronto naquela tarde na estação botafogo.

bilhete duplo na mão, segui para mais um dia de trabalho. considerando o cansaço e a resultante pouca disposição em travar um dialógo mais robusto, o que provavelmente se faria necessário, resolvi deixar para o dia seguinte a retirada do bendito bilhete.

sábado pela manhã, caminho pelas esburacadas ruas de botafogo até a estação. repito todo o ritual: explico a situação e pergunto pra pessoa na cabine sobre o bilhete, esta me manda perguntar ao segurança, que fala no rádio com o supervisor, que me pergunta o meu nome e que, finalmente, me informa que o meu cartão não chegou e que você deve continuar aguardando.

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quarta-feira, junho 25, 2008

recordar é viver

como disse no post anterior, há algum tempo tenho utilizado preferencialmente o metrô, ao invés dos ônibus. diante do imbróglio envolvendo o meu cartão pré-pago - o qual ainda não foi resolvido e tampouco houve um retorno da parte do metrô rio -, resolvi voltar a optar pelo ônibus como meio de transporte coletivo principal. para ser sincero, a resolução passou a funcionar na noite de ontem, visto que durante a manhã perdi a hora e tive que ir até a estação do metrô, adquirir um bilhete e viajar calado.

assim, no início da noite passada, caminhando pela rua da quitanda em direção à avenida presidente vargas enxerguei, ainda distante um quarteirão, os três números que indicavam o caminho de casa. corri e peguei-o ainda no ponto. nem bem entro e percebo o vendedor de balas na frente da roleta. este, ao contrário dos prolixos e animados showmen que estamos acostumado, só conseguia dizer quatro palavras:

"três jujubas um real! três jujubas um real! três jujubas um real! três jujubas um real!"

parava uns segundos e começava novamente, a mesma ladainha. o vendedor continuou por alguns instantes, vendeu alguns pacotes e desceu logo adiante.

aproveitei a oportunidade para abrir um livro e comecei a lê-lo calmamente. dois pontos adiante entra uma turma ruidosa, usando uniforme da "casa do biscoito", ou algo do gênero. para piorar, um indivíduo senta no banco de trás e começa a resmungar uma letra qualquer de canção. páro. tento me concentrar novamente. recomeço a leitura e o companheiro começa a assoviar a maldita canção. assim prosseguimos, ininterruptamente, por quase todo o trajeto pelo centro e pela praia do flamengo, onde ele decide conversar com as pessoas sentadas no banco ao lado, fazendo uma tremenda algazarra.

o trânsito está ruim na praia de botafogo e muita gente decide descer ali mesmo. seguindo o fluxo contrário das pessoas no coletivo, sobe outro vendedor de balas. dessa vez, além das balas você ganha uma mensagem bíblica e, naturalmente, além da propaganda você ganha a pregação. "deus abençoe a quem comprou e a quem não comprou também". chega o meu ponto e desço. amém.

hoje de manhã fui de metrô.

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terça-feira, junho 24, 2008

ônibus x metrô

desde que me mudei para botafogo tenho dado preferência à utilização do metrô. aparentemente, um meio de transporte mais confiável (principalmente no que diz respeito à pontualidade) e seguro (até agora não soube de relatos de assaltos à mão armada nos vagões). o aspecto negativo a ser destacado é o fato de você viajar em túneis escuros e não ver a cidade do rio de janeiro, o que vale uma viagem de ônibus.

pois bem, já há algum tempo tenho notado uma queda na qualidade do serviço do metrô, a qual não vem acompanhada de uma contrapartida no preço do bilhete, uma vez que o mesmo continua aumentando periodicamente e já custa R$2,60. principais problemas: vagões com o ar-condicionado operando precariamente ou desligado, vagões superlotados e paradas não programadas sem informações convincentes.

desde então, tenho alternado viagens de ônibus e metrô. costumo ir ao trabalho de ônibus: vou sentado, vejo a paisagem e chego a tempo devido ao trânsito tranquilo do início de manhã carioca. na volta, opto pelo metrô: não tem engarrafamento e garanto uma caminhada de 20 minutos até a porta de casa.

sexta-feira passada tive uma surpresa desagradável: há algumas semanas, depois de uma certa relutância da minha parte, adquiri um cartão pré-pago do metrô, que agora se vangloria de ter o sistema de bilhetagem mais moderno do mundo. o cartão, na verdade, deu fim à minha desconfiança de mineiro ao funcionar perfeitamente, especialmente no maracanã, onde havia uma fila só para ele.

o problema aconteceu na sexta passada quando cheguei ao metrô pela manhã e o maldito cartão não funcionou. passei em uma roleta, duas e nada. levei um esporro do segurança:

"desse jeito aí não vai passar mesmo! tem que ser com cuidado!".

o indivíduo pega o cartão da minha mão e passa na roleta. nada. passa na segunda roleta. nada. passa em todas as roletas e nada.

"é, tá com defeito."

vou conversar com o responsável que descobre que havia uma carga de R$22,10 no meu cartão e me apresenta, de maneira bastante simpática (sem ironia) e com uma folha de papel na mão, a solução proposta pelo metrô rio.

"o senhor pega esse papel aqui, preenche com o ocorrido e deposita em uma urna em uma estação qualquer. o serviço de atendimento ao consumidor entrará em contato com o senhor e efetuará a troca do cartão. eu vou liberar a roleta pro senhor agora."

"ok. entendi. mas e a volta?"

"ah, o senhor vai ter que comprar um bilhete."

depois de 40 minutos ali, de pé, resolvi, à contragosto, preencher o papel e depositá-lo numa urna na estação estácio. porra, o bilhete não é pessoal, era só pegar o crédito, transferir para um outro bilhete e inutilizar o que estava comigo. seria um serviço tão difícil assim? a bilhetagem pode até de primeiro mundo, mas o serviço é de terceiro mundo. garantido.

hoje, terça-feira, resolvi voltar à estação para questionar acerca da troca do cartão, visto que até agora não fui contactado por ninguém. um dos seguranças consultou um supervisor e o mesmo repassou o procedimento descrito na sexta-feira para ele.

"o senhor aqui já fez isso. ah, o nome dele?"

tampa o bocal do rádio, me pergunta meu nome, e transmite ao sujeito do outro lado do rádio.

"pode ser que o cartão esteja aqui", explica ele

"ele depositou na estácio. ah, tem que olhar na estácio?"

bem, no fim das contas, para encurtar, me deram um outro papel, depositei em outra urna e estou aguardando o bendito contato. vamos ver até quando dura esta saga. atualizações em breve. advogados já me garantiram que é causa ganha. veremos!

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sábado, agosto 19, 2006

Metrô

Quarta, nove e pouco da noite, Estação Uruguaiana. Acabo de descobrir que havia deixado o mp3 player no trabalho e a viagem até Botafogo, apesar de ser curta, mereceria essas quatro ou cinco canções. Pois bem, eis que o metrô chega. Entro, me posiciono de pé, entre a porta e o assento reservado para "idosos, gestantes, pessoas com crianças de colo ou portadoras de deficiência física". A viagem prossegue. Carioca, Glória, Catete, Largo do Machado.

"Próxima parada estação Flamengo. Next Stop, Flamengo station."

A senhora ao meu lado me cutuca.

- Pois não?
- Você vai saltar em Botafogo?
"Merda."
- Vou.
- Vai em que direção?
"Caralho. Respondo a verdade?"

Pequena pausa, respiro fundo.

"Foda-se, vai a verdade. Quem mandou esquecer o mp3 player?"
- Vou subir a Voluntários.
- Eu também. Você pode me ajudar com essa sacola?
"Céus!"
- Claro.
"Pqp, isso deve estar muito pesado... Será que é pegadinha?"

Procuro alguma câmera e não vejo nada.

"Próxima parada, Estação Botafogo. Integração para a Urca. Next stop, Botafogo Station"

"Ok. Here we go."

"É.. Até que é bem leve."

A senhora se levanta, usa o meu braço como apoio e seguimos caminhando pelas escadas até a saída da Voluntários. Após alguns minutos de silêncio, começamos a conversar:

- Você vai seguir até que altura?
- Até a Real Grandeza.
- Eu vou até a Paulo Barreto.

Nos quarteirões que se seguem recebo dicas de compras baratas ("o Sendas é muito careiro"), de linhas de ônibus mais convenientes que o metrô e das vantagens de se morar em uma casa, ao invés de um apartamento. Como era de se esperar, dada a má fase deste que vos escreve, ela morava numa das últimas casas da rua e a caminhada foi bem mais longa do que eu imaginava.

A deixo então na porta de casa, recebo mais uma dica de atalho e sigo meu caminho. Terminei o dia me sentindo um escoteiro.

sábado, agosto 12, 2006

Tanto tempo sem publicar que até o layout do blogger mudou e estou tendo dificuldades em escrever qualquer coisa aqui. Parece que há até espaço para imagens, vejam vocês. São outros tempos: banda larga, hds gigantes e por aí vai. Some-se a isso o aquecimento global, a guerra no líbano e o fato de eu ter tirado carteira de motorista e a hipótese de estarmos perto do apocalipse deixa de ser desprezível.



A imagem acima é de um coletivo em Santiago do Chile, em dezembro do ano passado. A capital chilena conta com um eficiente sistema de metrô. Entretanto, os ônibus que circulam pela cidade são muito velhos. Esse aí era dos melhores. Alguns acontecimentos:

* Cheguei ao aeroporto, encontrei minha amiga e pegamos um ônibus até uma estação num subúrbio qualquer. De lá, pegamos outro ônibus para a casa dela. Chegamos a uma avenida muito movimentada e ela deu o sinal. O motorista, que estava parado no sinal, abriu as portas no meio da avenida e nós descemos com mala, mochila e tudo mais e atravessamos as pistas, correndo, com o sinal já aberto. Rio de Janeiro style.

* Não há cobrador. O próprio motorista recebe e te dá um tíquete que você deve manter ao longo da viagem.

* No ônibus, indo de Las Condes para Providencia, sobe um jovem pela porta da frente. O discurso é o mesmo. "Estou desempregado, tenho família, 5 filhos, deus abençoe a todos"... Devo confessar que foram os únicos 5 minutos em que entendi tudo o que um chileno falava, mesmo não entendendo quase nada de espanhol.

* Também há vendedores que sobem e descem o tempo todo dos ônibus: balas, guloseimas, santinhos e por aí vai.

* No ponto do ônibus, esperando o coletivo para ir ao estádio nacional, ver a final do campeonato. Estava com o Pablo, que não falava uma palavra em português ou inglês. Eu não falava espanhol. De qualquer maneira, deu pra entender quando ele disse que aquele grupo que vinha correndo em nossa direção, tentando alcançar o nosso ônibus, era de torcedores da Universidad do Chile, "la barra más fanatica de Chile" e, que se eles começassem a cantar, pra gente cantar junto, senão entraríamos na porrada. "Ótimo. Posso tentar dublar..", pensei. Mas, no fim deu tudo certo. Devia ser sacanagem do Pablo. De qualquer jeito, enquanto subíamos a avenida que dava acesso ao estádio, torcedores da referida equipe fizeram um mini arrastão e levaram as camisas de umas pessoas que estavam à nossa frente. O jovem Pablo ameaçou entrar em pânico, tentando me explicar que as coisas não eram bem assim. "no hay problema, ya estoy acostumbrado, amigo!".

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Massacration

Até que tenho tido estórias para contar, mas a falta de recursos computacionais, especialmente, me impedem de escrever neste espaço. Aproveito a breve estadia em Belo Horizonte para dar uma atualizada.

É engraçado passar um tempo longe do local que até há tão pouco tempo era o seu dia-a-dia. Há umas três semanas estive na capital das alterosas e, ao sair do aeroporto, fui direto pegar um ônibus (a vida de opulência termina na porta do terminal de passageiros). Separei os tradicionais um real e quarenta e cinco centavos e aguardei o intermitente 9503. Chegou, entrei e dei de cara com o aviso da nova tarifa: R$1,65. Nada como a segurança do respaldo das urnas para tomar atitudes antipopulares... Enfim, estamos na frente do Rio de Janeiro mais uma vez! Hoje, curiosamente, separei R$1,70. É engraçado perceber como esses pequenos detalhes são apagados da sua mente tão depressa...

Enfim, estava lá, sentado no 8108 e me entra um garoto todo de preto. Uns 14 anos, pulseiras, cordões, um metaleiro. Coisa normal para a idade e o local. O que achei anormal foi o jovem estar trajando uma camiseta do MASSACRATION. Fiquei ali, pensando se as pessoas têm tido problemas em entender piadas. Afinal, já não é a primeira vez que esse tipo de coisa acontece. Pra mim isso só comprova que o nível da nossa escola anda muito ruim mesmo. Se bem que, por outro lado, posso estar ficando ultrapassado, me tornando um velho rabugento e careta. Bah. Melhor ir nessa.


quarta-feira, março 31, 2004

É mais seguro

Verdade seja dita: até que as empresas estão colocando alguns novos veículos para circular. São bonitinhos até. A BHTRANS aproveita o bom momento para fazer publicidade acerca do seu trabalho. Na traseira de alguns ônibus se pode ler: "Viaje de ônibus! É mais seguro!". Bom, é provável que seja sim. Na verdade, a parte difícil e angustiante é ficar no ponto esperando por 15 ou 20 minutos depois da recente "emagrecida" nos quadros de horários das linhas. Aí não é nada seguro, especialmente à noite. De qualquer maneira, podemos creditar um ponto pra eles, afinal não mencionaram a palavra conforto no anúncio.

Bem, pra finalizar, gostaria de fazer um adendo ao post do meu dileto amigo Sérgio. A experiência tem me mostrado que a existência de concorrência não é garantia de um bom serviço. Acho que o problema está mais relacionado à filosofia da empresa que tem a concessão para explorar o trecho. É comum, por exemplo, a viação disponibilizar os carros melhores para as viagens mais atraentes e deixar os famosos "pau-velho", como diria o meu pai, para o interior. Por outro lado, existem empresas que optam por oferecer um serviço legal para qualquer trecho. Me parece que a Presidente, que faz BH-Ipatinga, é uma delas (se bem que o trem faz concorrência a eles). Pelo menos das últimas vezes que fui eram ônibus novos e com ar-condicionado. Por fim, é preciso lembrar que mesmo que haja duas empresas operando num mesmo trecho, a concorrência é só na base da preferência por uma marca ou outra, uma vez que os preços das passagens são EXATAMENTE os mesmos. A solução, talvez, seja aumentar o nível de exigência - por parte do governo - para que uma determinada empresa seja credenciada a operar uma linha.



quarta-feira, março 17, 2004

Ô FULANO!

E então o sujeito se ergue, bota a cabeça para fora da janela e berra um nome qualquer. As pessoas à sua volta se assustam, os transeuntes param e o fulano, alvo de seus gritos, vira-se para o ônibus. A mudança súbita da expressão facial do fazedor de graça logo demonstra aos demais passageiros que a manobra não foi bem sucedida. Um risinho sem graça e uma tentativa desesperada de se camuflar naquele banco e não ser percebido por ninguém. Talvez o pior momento... Não, não foi comigo. Na verdade, eu desisti desse tipo de coisa desde que algo similar me aconteceu no longínquo ano de 1994. Não errei a pessoa, mas a pessoa não olhou pra mim, passou direto. Sobrou a cara de tacho.

Hoje fico por aqui.

domingo, novembro 02, 2003

Tempo!

Dessa vez tá faltando é tempo - e não estórias - para escrever aqui... Mas não deve demorar... heh

domingo, outubro 12, 2003

Mr. Sorriso

Depois de um tremendo temporal saí de casa com destino ao ponto do ônibus. Fiquei de pé lá, uns poucos minutos, e logo vi aqueles números mágicos parados bem em frente ao semáforo. Dei sinal, entrei e sentei.

Foi na rua da Bahia que entrou um sujeito muito mal encarado e um frio correu minha espinha. Sabem quando rola um mau pressentimento? "Putz, vamos ser assaltados!", foi o pensamento que veio imediatamente à minha cabeça... Achei estranho porque, antes de se postar em frente à roleta, o rapaz mudou de feição e ficou todo sorrisos para a trocadora. Mudou de sentido e sentou-se num daqueles bancos vermelhos da frente. "Ufa..".

Três pontos adiante ele desceu, em frente à Igreja de Lourdes, não sem antes sorrir um pouco mais para a distinta agente de bordo, que, ao ver a porta fechar disse para o motorista:

- "Esse aí é um dos ladrões lá do Taquaril!"
- "É mesmo?", ele respondeu.
- "É. Quando eu trabalhava no 9803 ele entrou com mais dois caras e veio em direção a roleta. Quando ele viu que era eu ele mandou o pessoal parar a descer. Falou para eu ficar tranquila que comigo não acontecia nada. Era minha última viagem naquele dia..."
- "Hum.."
- "Por isso que eu gostava do 98, não tinha assalto quando eu trabalhava..."
- "Sabe o que ele veio fazer aqui, né?", disse o motorista.
- "O que?"
- "Roubar cd dos carros aí."
- "Ah, é!"

Infelizmente (Felizmente?), não pude acompanhar o restante da saga (se é que o assunto prosseguiu), pois logo tive que descer. Ainda deu um certo receio de passar pelo banco e fazer um saque, mas, ok. Ao que parece, a gente tem que se habituar. O mundo pertence a quem, afinal?

terça-feira, outubro 07, 2003

Lugar comum

Quinta-feira passada resolvi ir ao Independência ver um jogo do Atlético. O resultado foi que tive que pegar um ônibus na Praça da Liberdade por volta das 17:30. Dia ensolarado, calor de matar e o ônibus veio, lotado, como era de se esperar. Alguns pontos adiante vejo um sujeito vestido de palhaço passando pela roleta. "Eita, lá vem...", pensei. É interessante notar que, agora que a concorrência pelo comércio dentro dos coletivos está mais acirrada devido aos meninos das balas, o pessoal do teatro resolveu pagar a passagem para vender seu peixe.

Enfim, o cara, com muito custo, se estabelece no meio do corredor e começa o originalíssimo discurso: "Boa tarde, gente! Meu nome é fulano de tal e faço parte do Grupo Teatral Alguma-Coisa-Feliz. A gente faz apresentações em creches, em hospitais infantis onde estão internadas crianças com leucemia e até mesmo com aids e em asilos. Infelizmente, não contamos com nenhum apoio do governo ou de patrocinadores e, por isso, estou aqui vendendo esse cartões e contando com a contribuição de vocês..." e por aí vai. E então recebe-se um cartão onde está impressa alguma mensagem tão alegre quanto artificial.

Olha, pode até ser que a pessoa seja a mais bem intencionada do mundo e que o tal grupo seja idôneo, mas é muito, muito difícil crer no que está sendo dito. Um discurso enlatado, decorado e vazio. É uma estratégia tão batida que vulgarizou a leucemia, a aids, a velhice e a solidão. Não comove mais ninguém.

E, ah, o Galo ganhou naquele dia.

sexta-feira, setembro 19, 2003

Sexta-feira

Devido às confusões temporais que as férias nos trazem, a todo momento confundia esta sexta com um sábado. Foi assim que achei estranho todo aquele movimento na Savassi depois das dez da noite. Pela primeira vez notei a existência do Marista Hall - ou dos distúrbios causados por ela -, hordas de adolescentes metidos em camisetas verde-limão sem mangas subiam a Cristóvão Colombo tendo como destino uma festa de música da Bahia. Logo passa o ônibus. E, amigos, foi uma viagem daquelas! De pé e chacoalhando devido às freadas bruscas do motorista. Dessa vez, até mendigo transando na Av. Assis Chateaubriand eu vi.

Na verdade, acabei arranjando um assento no meio do caminho. Meio apertado, mal cabiam as minhas pernas... E que movimento nas ruas! Comecei a me lembrar daqueles Jeeps onde os turistas passeam em safaris observando a vida selvagem. Tudo ali para ser observado, como se não fosse realidade. Todos os salões da João Pinheiro recebendo pessoas em traje de gala, metaleiros descendo em bandos a avenida, prostitutas na Afonso Pena, pivetes cheirando thinner nas grades do Parque Municipal e muita gente esperando suas linhas com bolsas, fichários e mochilas. Muita gente cansada, dava pra ver na cara. Mas então um tio com cheiro de cigarro passou pela roleta e esbarrou a sua bolsa na minha cabeça me trazendo de volta à realidade.

Sem mais devaneios, desci e percorri um quarteirão numa rua escura até chegar em casa. Um pouco de medo e uma sensação de alívio quando, finalmente, tranquei a porta. Que coisa odiosa! Mas é isso aí. Foi um dia feliz.

domingo, setembro 07, 2003

Bandidos armados com fuzis roubam passarinho campeão.

Fatos dignos de nota sobre os cinco dias passados no Rio de Janeiro:

* A passagem continua R$1,40.

* Agora, como em Belo Horizonte, os passageiros entram pela porta da frente.

* As pessoas continuam fumando dentro do ônibus.

* Os corredores dos ônibus cariocas devem ser os mais estreitos do Brasil. É necessária uma tremenda ginástica para que você consiga descer de um quando está lotado. Todo mundo se esfregando com um certo constrangimento.

* 6 horas em Ipanema, um vendedor de Halls sobe no veículo pela porta de trás. Quer vender "o alívio refrescante" e conta toda uma estória triste, coisa que qualquer usuário de transporte coletivo já está acostumado. A ladainha leva uns 10 minutos e o cara desce. Mais gente sobe pela porta de trás, sem pagar, naturalmente. De repente ouço uns acordes, pareceu um cavaquinho. Aliás, era mesmo um cavaquinho que trouxe a turma toda com ele. Logo tínhamos uma roda de pagode dentro do carro. Maravilha não? O povo lá no fundo cantando, dançando... No ponto seguinte descemos, uma pena não ter podido acompanhar a festa até o ponto final...

* Aqueles meninos malabaristas sumiram dos sinais. Acho que vieram todos para Belo Horizonte.

* O título do post é a manchete de um jornal que vir por lá.

sexta-feira, agosto 29, 2003

Sem passar pelo centro

Olha, eu acho uma maravilha essas linhas de ônibus que não passam pelo centro! Menos trânsito, chega-se mais rápido ao destino. Uma dessas linhas é a 62, que faz Venda Nova - Savassi. Boa para se ir ao dentista (parece que todos eles têm consultórios na Av. Brasil). Bom, na terça-feira peguei a dita linha no meio da tarde, tudo meio parado, o motorista andando bem. Sentei naquela última cadeira, aquela que fica no fundo do veículo, em cima do motor. No ponto seguinte entrou um rapaz estilo skatista e um senhor - estilo Oswaldo Oliveira (cara, cabelo, óculos, até a calça colocada logo abaixo do suvaco, tudo igual, impressionante), que julguei ser seu pai. O carinha tava usando uma munhequeira branca - quando digo munhequeira, é munhequeira mesmo nada de pulseira, era felpuda e tudo mais. Fiquei então conjecturando, em silêncio, acerca das atividades desenvolvidas pelo indivíduo (jogador de tênis, musculação, fisioterapia...) ou se aquele acessório era apenas mais uma "moda".

Aqui abro parênteses para explicar o trajeto. O ônibus trafega pela Av. Francisco Sales. No início é uma subida, que termina no cruzamento com a Av. Assis Chateaubriand. A partir daí é uma bela descida até um viaduto sobre a Av. do Contorno sendo que, bem no meio, há uma espécie de patamar que faz com que a descida seja similar a um tobogã.

Enfim, o ônibus vinha como um foguete quando começou a descer pela Av. Francisco Sales de modo que, ao passar pelo tal patamar, praticamente levantei vôo do meu assento, sendo surpreendido no meio dos meus devaneios. Restou-me arregalar os olhos e esperar pela catástrofe. Felizmente, a providência divina interveio e acabei sendo poupado de um humilhante tombo ao ter sido capaz de, milagrosamente, segurar uma barra que estava à minha direita. Depois disso não deu para pensar em mais nada. Desci na Av. Afonso Pena e o Oswaldo e seu filho seguiram adiante.